A educação a distância como instrumento de inclusão social
Repercutiu mal o pedido do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, feito em fevereiro a diretores e gestores de todas as instituições públicas e privadas de educação básica. O ministro queria que os alunos se reunissem para cantar o hino nacional, ler uma mensagem (que incluia o slogan de campanha do presidente Jair Bolsonaro) e filmar o ato. No fim, após gerar polêmica, Vélez desistiu.
Ainda que quisessem gravar e enviar o vídeo ao ministro, muitos diretores enfrentariam dificuldades. É que 56% das escolas públicas de ensino fundamental não têm acesso à internet.
Se incluídas as instituições privadas, são 54 mil colégios (42,4%) sem banda larga – 45% sequer têm biblioteca. Os dados são do Censo Escolar 2018, divulgado em janeiro pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep).
No ensino superior, a situação é menos dramática. Praticamente todas as 2,4 mil instituições têm conexão.
“Ainda assim, as universidades situadas em regiões de pouca infraestrutura enfrentam problemas”, diz Arthur Igreja, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Se for necessário usar recursos virtuais que demandam uma grande largura de banda de internet, a experiência para o estudante será péssima”.
Ver um vídeo ou baixar um arquivo, por exemplo, podem ser um teste de paciência ao aluno.
Como se não bastasse, mais de um terço (39%) das residências brasileiras não tem qualquer forma de acesso à internet, conforme a pesquisa TIC Domicílios 2017. São cerca de 27 milhões de casas desconectadas. E consequentemente excluídas da inovação (e inclusão) promovida pela educação a distância (EAD).
Inclusão social
“Um dos papéis da EAD é ampliar a acessibilidade do ensino superior”, diz Paola Cicarelli, conselheira de inovação da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). “Mesmo se o estudante não tiver acesso à internet em casa, ele pode utilizar o polo como alternativa.”
Na modalidade a distância, o aluno estuda em casa e realiza provas, atividades laboratoriais e outros encontros presenciais em uma unidade da insitituição de ensino.
O Brasil tem cerca de 15 mil polos de EAD públicos e privados. Eles atendem 1,6 milhão de alunos. De acordo com um estudo de 2018, produzido pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), esse público é predominantemente mais velho: 38% dos alunos têm de 31 a 40 anos e 29% têm acima de 40. A maioria trabalha (82%).
Mais da metade do corpo discente (62%) da EAD é formado por mulheres. “Eu ainda acrescentaria que essa aluna provavelmente cursa Pedagogia, pois é o curso EAD com mais ingressantes, de acordo com o último Censo [da Educação Superior]. São quase 190 mil matriculados”, diz Pedro Balerine, diretor de inteligência educacional da plataforma Quero Bolsa.
Apesar de enfrentar gargalos de infraestrutura e até mesmo resistência por parte de alunos e professores, a educação a distância cresce ano a ano. Em 2017, o último com dados disponíveis, o salto foi de 17,6% – o maior desde 2008. Mensalidade mais barata e conveniência de adequar a carga horária e os estudos à rotina de trabalho impulsionam o segmento.
Balerine, no entanto, salienta que o ensino a distância requer mais comprometimento da parte do alunado. Ao menos em comparação com os cursos da modalidade presencial.
A EAD também demanda maior disciplina na realização de tarefas, nas horas dedicadas ao estudo e às aulas. “Se o aluno não tiver perfil para isso, o risco de se desmotivar e abandonar o curso é alto”, diz Balerine, da Quero Bolsa. A taxa de evasão em cursos virtuais chega a 50%, segundo um levantamento da Abed.
EAD dá autonomia a deficientes
A EAD democratizou o acesso à educação ao atuar como meio facilitador para pessoas com deficiência e dificuldades de locomoção.
“A EAD contribui para a autonomia fazendo com que os alunos superem as barreiras dos centros urbanos, e também respeitando o ritmo de aprendizagem individual”, afirma Daiana Rocha, gerente da Sagah, empresa de conteúdo e tecnologia para ensino a distância.
Josiane Tonelotto, que é superintendente acadêmica do Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo, e que até o ano passado era ex-reitora da EAD Laureate – rede de educação online de universidades como Potiguar e Anhembi Morumbi –, usa São Paulo como exemplo.
“Numa cidade enorme como essa, pode ser difícil para um cego ou alguém com dificuldade motora ir até a faculdade”, diz Tonelotto. “A tecnologia aumenta as chances de o aluno com limitações receber o mesmo nível de ensino que outro sem deficiência ou que frequente a instituição.”
De acordo com o último censo do setor, de 2017, há pelo menos 258 instituições oferecendo 2.112 cursos a distância. Três anos antes, eram 849 cursos em 131 faculdades e universidades.
Os alunos da EAD Laurete estudam através de podcasts, vídeos, textos e outros materiais disponibilizados pelos professores na plataforma Blackboard. O ambiente virtual de aprendizagem (LMS, na sigla em inglês) oferece recursos de acessibilidade como aumento da letra, audiotexto, legendas e vídeos em libras.
Essas ferramentas são chamadas de tecnologias assistivas – vitais para consolidar a EAD como instrumento de inclusão. Saiba mais na próxima reportagem.
Com informações do site: Desafios da Educação
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